"Amor e Inclusão: Entrevista com Diego Gallet, Educador e Escritor de Livro sobre Família e Adoção" Destaque
- Escrito por Setor de Comunicação
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O "Talentos da Nossa Rede" busca apresentar e valorizar os talentos brilhantes que fazem parte da Rede de Educação de Hortolândia. Encontraremos poetas, escritores, artistas e outros talentos que vão além da vida escolar. Celebraremos a diversidade, a criatividade e a conexão entre educação e arte. Aqui, cada talento descoberto se torna uma fonte de inspiração para toda a comunidade escolar.
Diego da Silva Gallet é escritor, pedagogo e mestre em Educação pela PUC- Campinas. Desde o ano de 2018 é professor pela prefeitura de Hortolândia-SP e leciona, atualmente, na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Profa. Marleciene Priscila Presta Bonfim. É autor e ilustrador do livro "O urso e o raposinho", lançado em 2021 pela editora Juruá.
SC: Como você descobriu sua paixão pela escrita e o que o motivou a se tornar um autor?
DG: Desde criança gosto muito de ler. Lembro de sempre estar com um livro da biblioteca da escola emprestado na mochila. Minha mãe sempre me motivava a ler. Quando cursei a faculdade de Pedagogia, uma das disciplinas solicitou que nós produzíssemos um livro infantil. A princípio era apenas um trabalho de conclusão da disciplina, mas me lembro de como a professora nos encorajava a enviar para alguma editora. Esse trabalho eu nunca cheguei a publicar. Quando tive meu filho por meio da adoção, me veio a ideia de escrever nossa história, em forma de livro infantil, para que ele entendesse que éramos uma família mesmo sendo apenas um pai e um filho. Os irmãos dele haviam sido adotados por outra família e queria também deixar claro que eles jamais se afastariam. O vínculo iria prevalecer e íamos nos encontrar sempre que possível. Aconteceu que ao escrever e ilustrar a história, alguns amigos e minha família leram, gostaram e me encorajaram a enviar para uma editora. A editora, que já publicava livros infantis dentro da temática adoção, gostou do meu livro, e assim acabei me tornando um autor e ilustrador de livro infantil.
SC: Sabemos que escrever pode ser uma tarefa trabalhosa. Como você equilibra o tempo entre suas responsabilidades como professor e o processo de escrita de livros? Alguma vez você já enfrentou desafios para encontrar esse equilíbrio?
DG: Realmente a rotina de professor é muito corrida. Quando escrevi e ilustrei meu livro, foi no momento alto da pandemia de 2020. Ainda trabalhava bastante, mas era tudo em casa. Precisava de algo diferente para suavizar a rotina e todo o medo que eu e meu filho sentíamos nesse momento tão difícil que a humanidade passou. Então, escrever e ilustrar esse livro também foi um processo terapêutico. Acredito que se não houvesse a pandemia, mesmo com as responsabilidades de professor, essa história teria que ser "colocada para fora" pois era algo com uma motivação maior que eu. Eu iria dar um jeito de escrever.
SC: Quais são os temas recorrentes que você gosta de explorar em suas obras literárias? Existe alguma mensagem que você procura transmitir através de seus livros?
DG: Infelizmente, até o momento, escrevi apenas um livro com a temática da adoção, mas que pode ser lido por todas as crianças. A ideia é as crianças que foram adotadas se identificarem com o personagem e as que não formaram família pela adoção, enxergarem a existência dessa possibilidade de formar uma família, que é tão legítima quanto a via biológica.
SC: Como um professor e escritor, você tem consciência dos baixos índices de leitura no Brasil. Como você enxerga a importância do seu trabalho literário e de sua atuação como educador para incentivar o hábito da leitura entre os brasileiros, especialmente os jovens, e quais ações você acredita que poderiam ser tomadas para promover uma mudança positiva nesse cenário?
DG: Acredito que é de fundamental importância o trabalho do professor no incentivo à leitura em sala de aula. A internet com seus vídeos de poucos segundos e aplicativos de jogos tem atrapalhado a concentração e o desenvolvimento de jovens leitores. Mas sou daqueles que tentam ver o "copo meio cheio". Precisamos tirar a tecnologia de sua posição de "vilã" e torná-la uma aliada. O professor tem essa missão. Vários recursos podem ser usados como audiobooks, e-books, podcasts, vídeos com contação de histórias, etc.. Mas acredito que é importante também segurar um livro físico, virar cada página na expectativa da continuação da história, apreciar as ilustrações (feita nos mais diferentes estilos artísticos). Acredito que o segredo é o equilíbrio. E o professor é quem vai proporcionar esse equilíbrio às crianças.
SC: Como educador e autor, você reconhece o papel crucial da leitura no desenvolvimento intelectual e emocional das crianças e estudantes. Poderia compartilhar sua perspectiva sobre como a prática da leitura pode influenciar positivamente suas vidas e quais benefícios você acredita que ela traz para a formação de indivíduos mais conscientes, criativos e empáticos?
DG: Sem dúvida, a leitura contribui muito para o desenvolvimento de futuros adultos conscientes, criativos e empáticos. Hoje, com a internet, não é difícil encontrar atos de intolerância, racismo, homofobia...coisas que são reflexos dessa falta de conhecimento que poderia ter sido adquirido através da prática da leitura. A leitura traz consciência, perspectiva, exercício da empatia, conhecimento, pensamento crítico... E exige compromisso, envolvimento, dedicação, raciocínio, paciência, criatividade, atenção, etc.. São muitos benefícios que podem ser perdidos se não há o desenvolvimento da prática da leitura.
SC: Ao escrever para um público você considera a diversidade e a representatividade como aspectos importantes em suas obras? Como você aborda essas questões?
DG: Muito! Inclusive é a principal mensagem do meu livro. Já existem muitos livros falando das famílias ditas "tradicionais". Meu filho dificilmente iria encontrar uma história que tenha um pai e um filho como uma família completa. A minha intenção com o livro era atingir uma configuração de família diferente. Além, também, do modo de se formar uma família (pela adoção) e a adoção de grupos de irmãos por famílias diferentes. São questões que estão intimamente ligadas a mim, mas que muitas vezes não me vejo representado na literatura. Sei que existem essas questões em outras famílias e minha intenção era retratá-las para que crianças e adultos pudessem, em algum momento, se identificar com algum personagem do meu livro.
SC: Alguns professores podem utilizar a literatura como uma forma de engajar seus alunos em sala de aula. Você já compartilhou suas experiências literárias com seus estudantes? Como eles reagiram?
DG: Sim. Ano passado eu estava com duas turmas de 2º ano. Li uma vez como leitura diária e foi incrível, ao final, falar que o autor do livro era o professor deles e ver suas reações. Recentemente, no evento "Literalendo" da nossa escola, a gestão organizou uma ação envolvendo a escola inteira: teve encenação do meu livro para as crianças, roda de conversa com o autor, e pintura e reprodução do desenho da capa do livro. Foi maravilhoso ver as crianças em contato com minha obra e o interesse delas fazendo perguntas sobre o processo criativo de elaboração do livro. Para muitos, foi a primeira vez que eles estiveram em contato direto com um escritor de um livro publicado. As crianças ficaram muito empolgadas com tudo isso. A minha fala para elas foi de que é possível sim elas também serem escritoras e ilustradoras. Mas é preciso exercitar a escrita e a leitura, coisa que já fazem na escola. E, também, que o autor não é só aquela pessoa famosa que conhecemos pela foto da contracapa do livro. Ele pode estar mais próximo do que a gente pensa, pode ter outra profissão além de escritor, enfim, pode ser totalmente acessível. Sou muito a favor desses tipos de eventos e fico muito lisonjeado quando sou convidado pois, mais que a divulgação do meu livro, sinto que isso inspira muitas crianças e as estimula para a leitura e escrita criativa.
SC: Como a escrita de livros têm influenciado sua própria jornada como professor? Você acredita que essa atividade enriquece sua prática docente de alguma forma?
DG: Sim. Quando você escreve e ilustra um livro, você começa a reparar em outros aspectos das obras literárias. Isso faz com que eu tenha mais critérios na hora de levar um título para ler com meus alunos, ou no momento de escolher uma atividade de interpretação de texto para trabalhar com eles.
SC: Em meio aos desafios da profissão de professor, como você encontra inspiração e motivação para continuar escrevendo e compartilhando suas histórias?
DG: A minha inspiração veio de coisas da minha vida pessoal: a paternidade, a adoção, a docência... Isso tudo me inspirou a escrever meu primeiro livro infantil. Sinto que, quando lançar meus próximos livros, essas sempre serão minhas principais inspirações.
SC: Você poderia compartilhar alguma experiência gratificante que teve como escritor, especialmente relacionada ao seu papel como educador?
DG: Depois do evento "Literalendo", sempre recebo de alguns alunos alguns textos para ler. Virei meio que um "revisor" de textos na escola. Fico muito feliz com isso pois são textos que eles escrevem não porque a professora solicitou como atividade, mas com motivação pessoal. Vem muitas coisas legais e dou sempre um retorno incentivando a continuar escrevendo. Outra vez também recebi um comentário de uma mãe de duas crianças que comentou que, enquanto estava lendo o livro para seus filhos, um comentou: "Olha, a história dos raposinhos se parece com a nossa". Para mim, só isso já fez tudo valer a pena.
SC: Você tem algum livro favorito?
DG: De literatura infantil gosto muito de livros que falam de sentimentos, como o "Pata de elefante", da Luciene Tognetta e "Somos um do outro", do escritor e ilustrador americano Todd Parr. Já em literatura para os adultos, gosto das crônicas escritas pela Martha Medeiros. Meu livro preferido dela é "Divã".
SC: Você está trabalhando em alguma história recentemente? Pode nos dar algum spoiler sobre um projeto futuro?
DG: Atualmente eu não estou trabalhando em nenhum texto com fins de publicação. Tenho alguns textos já escritos contando como foi a espera do meu filho pela adoção, em forma de diário. Talvez um dia publique. Penso em escrever mais livros para crianças. Sou apaixonado pela literatura infantil e ver uma criança com um livro aberto na mão me deixa extremamente feliz.
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