"Arte e Educação como Inspiração: Entrevista com o artista e educador Rafael Noronha" Destaque
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O "Talentos da Nossa Rede" busca apresentar e valorizar os talentos brilhantes que fazem parte da Rede de Educação de Hortolândia. Encontraremos poetas, escritores, artistas e outros talentos que vão além da vida escolar. Celebraremos a diversidade, a criatividade e a conexão entre educação e arte. Aqui, cada talento descoberto se torna uma fonte de inspiração para toda a comunidade escolar.
O artista e professor Rafael Noronha Silva é formado em Desenho e Plástica pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São José do Rio Pardo. Participou do projeto de restauração de casas no bairro Santo Antônio no centro histórico de Salvador de 2007 a 2010, onde trabalhou simultaneamente, na pintura de quadros para uma rede de hotéis na mesma cidade. Desde o ano de 2015 é professor pela prefeitura de Hortolândia-SP e leciona, atualmente, na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Dayla Cristina Souza de Amorim.
SC: Como você descobriu a arte? Existe alguma experiência ou evento específico que tenha influenciado sua jornada?
RN: Sempre gostei de desenhar e pintar. Lembro-me de um episódio, ainda criança, quando observei um caricaturista desenhando em uma festa de aniversário e, a partir deste acontecimento, tive um despertar para a arte de desenhar e de lá para cá venho treinando bastante.
Já trabalhei em praças, fiz caricaturas e retratos em algumas cidades do interior de São Paulo, no litoral paulista e em Salvador. Também fiz charges para pequenos jornais em São José do Rio Pardo, onde passei minha adolescência, mesma cidade em que fiz a faculdade de desenho e plástica. Logo após concluir a graduação, fui para Salvador, local em que fiz caricaturas nas praias, dei aula em colégios particulares, pintei quadros para hotéis e também trabalhei para uma empresa, fazendo perspectivas e maquetes de casas do bairro Santo Antônio no centro Histórico.
SC: Como você começou sua jornada como artista e o que o inspirou a se tornar também um professor?
RN: Cheguei a Campinas em 2011, onde dei aula até 2015, como contratado do Estado. No mesmo ano, ingressei em Hortolândia, local em que leciono até hoje. Paralelamente às aulas, continuo desenhando e pintando. Embora o pouco retorno financeiro proveniente do meu trabalho artístico, não consigo deixar de pintar: sem a arte, fico angustiado. A pintura, na minha vida atualmente, funciona como algo terapêutico e prazeroso. Apesar disso, não descarto a possibilidade de que futuramente me proporcione também alguma renda.
SC: Como você equilibra artista com o papel de professor de artes? Como um influencia o outro?
RN: Deixei dois dias da semana livres para meu trabalho com os quadros, além dos finais de semana. Para criar minhas obras, pesquiso técnicas, estilos e movimentos artísticos no intuito de aprimorar cada vez mais meus métodos. Acabo dividindo com os alunos conhecimentos que pesquiso para meus projetos e aprendo muito com eles também. Crianças são intensamente livres. Há ideias que coloco nas minhas pinturas justamente por terem dado certo no trabalho com os alunos. Livres de técnicas de anatomia, perspectiva e pintura, os alunos conseguem executar alguns trabalhos que vão além, trazendo inspirações, razão pela qual as emprego em meus quadros. É uma troca que proporciona o aprendizado mútuo.
SC: Quais são as principais influências em seu trabalho artístico e como elas evoluíram ao longo do tempo?
RN: Comecei com caricaturas e charges… Percebo que em virtude disso trago até hoje muito dos quadrinhos nos meus trabalhos. Experimentando, divaguei pelo impressionismo, Pop, realismo e outros estilos, mas acredito que minha maior influência acaba sendo o expressionismo e suas vertentes. Hoje em dia percebo que tenho os traços mais soltos e com mais técnica, mas acredito estar em evolução constantemente.
SC: Quais são os temas ou conceitos que você mais gosta de explorar? Você tem preferência por trabalhar com algum meio específico como a pintura, escultura, fotografia ou mídia digital? Se sim, como isso afetou sua abordagem artística?
RN: Temas políticos, religiosos, de etnia e denúncia de injustiças sociais são os meus preferidos, mas também tenho minhas fases decorativas com pinturas de animais, paisagens e, principalmente, brincadeiras de crianças soltando pipa, jogando bolinha de gude, batendo figurinha etc. Trabalho especificamente com a pintura, mas também faço colagens, assemblagem.
SC: Qual é o impacto que você deseja que suas obras tenham nas pessoas que as apreciam?
RN: Nos meus quadros procuro retratar o tempo no qual estou inserido, o espaço urbano, a superpopulação, o consumo, as questões ambientais, étnicas e políticas. Pretendo provocar a reflexão em quem observa minhas obras para que tenham mais consciência da realidade.
SC: Você tem alguma preferência de materiais e técnicas que utiliza nas suas obras?
RN: A tinta que mais tenho gostado de usar ultimamente é a nanquim colorido sobre tela. Isso porque acho uma tinta fácil de lidar, com secagem rápida, sobrepõe bem e desliza fácil, ainda mais com uma técnica que costumo brincar que foi desenvolvida por mim, denominada “caneta bico de pena pós-moderna”. Tal técnica consiste em colocar diversas cores da nanquim colorida em uma cartela vazia de ovos e com auxílio de canetões secos utilizados em quadro branco vou molhando na tinta e passando na tela, uso pincéis também, mas muito dos traços dos meus quadros são feitos com essa técnica que imita os traços da caneta posca, caneta muito usada por grafiteiros. Acredito que meu trabalho final seja um figurativo abstrato. Mesmo tentando abstrair, uso técnicas de perspectiva e anatomia. Assim, o desenho que quero está sempre ali, presente no meio da abstração, mas num tipo de gestalt. Quem observa meus quadros costuma comentar que contempla várias imagens, como se tivesse a sensação de olhar para as nuvens e ver figuras que não foram feitas por mim.
SC: Como a sua experiência como professor de artes impactou o seu próprio trabalho como artista? Há alguma história interessante que você possa compartilhar sobre essa influência mútua? Algum aluno que o inspirou de maneira especial?
RN: Há aproximadamente 6 anos, tive um aluno autista, que desenhava com facilidade e muito detalhadamente os cômodos da casa ou outros locais dos quais tinha conhecimento prévio. Durante algum tempo, como treinamento, passei a tentar desenhar locais que eu conhecia e, apesar do meu esforço, não conseguia alcançar tamanha quantidade de detalhes.
SC: Quais são os desafios e as recompensas de ensinar artes?
RN: Os desafios englobam questões relacionadas ao ato de desenvolver a criatividade, a coordenação motora, o convívio, as relações interpessoais e a organização do espaço durante as aulas.
Sinto-me recompensado ao perceber o olhar de encantamento dos alunos diante da conclusão de algumas atividades e também pelo carinho que demonstram em relação à disciplina de educação artística, momento em que podem pôr em prática o potencial criativo com liberdade
SC: Como você vê o papel da arte na sociedade e qual é a mensagem que você espera transmitir através das suas obras e nas salas de aula como professor?
RN: Através da arte, como professor, posso dividir meus sentimentos e espero conseguir desenvolver nos alunos uma visão crítica do mundo, para que eles tenham capacidade e instrumentos para modificar a realidade que os cerca quando for necessário e que sejam adultos capazes de se posicionarem e de terem voz diante das injustiças cotidianas.
SC: Como você acredita que a educação artística pode enriquecer a vida das pessoas, mesmo daqueles que não buscam uma carreira artística?
RN: A educação artística possibilita que as pessoas exercitem diversos talentos, como a imaginação, as habilidades manuais, a concentração e a criatividade. De modo geral, a educação artística está associada a algo lúdico, que acaba proporcionando divertimento e prazer, independentemente do fato de que quem a produz, tenha ou não uma carreira na área.
SC: Você tem algum conselho para aspirantes a artistas que estão começando a explorar esse universo?
RN: Aconselho a quem está começando sempre aprimorar as técnicas, estudar e, sobretudo, praticar diariamente, além de procurar ter um estilo próprio. O trabalho artístico é capaz de proporcionar bastante satisfação, mesmo quando não está associado a ganhos financeiros.
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